in memoriam José Quintino Rogado
Comemora-se este ano o centenário do nascimento do professor José Quintino Rogado, um visionário que mudou o ensino e a prática da Engenharia de Minas em Portugal e de quem o Técnico se orgulha muito de o ter tido como um dos docentes mais marcantes do século XX.
Nos anos 60, o engenheiro de minas formado no Técnico, José Quintino Rogado, era responsável técnico das minas de ferro de Cassinga no sul de Angola. Enfrentou um desafio e levantou um problema que desencadeou uma das maiores mudanças estruturais da prática da engenharia de minas: o que impedia o planeamento e a gestão dos recursos minerais, no sentido de previsão de curto e médio termo da sua produção, era a ausência de modelos matemáticos de caracterização desses recursos.
Um encontro casual com um jovem cientista francês da área das geociências, Georges Matheron, que testava os primeiros modelos geoestatísticos nos depósitos de ouro de Witswatersrand na África do Sul, acabaria por dar origem à solução daquele gargalo metodológico. José Quintino Rogado percebeu que naqueles modelos, desenvolvidos por Matheron no recém-criado centro de geoestatística de Fontainebleau, estava a chave para transformar o quadro metodológico da engenharia de minas, em particular a avaliação de reservas e o planeamento mineiro da produção.
No início dos anos 70, Quintino Rogado, já professor catedrático do Técnico, enviou para Fontainebleau os seus professores assistentes, Henrique Garcia Pereira, Fernando Muge e Leopoldo Cortez, para aprenderem as novas metodologias daquela área científica. É um tempo que coincide com uma mudança drástica do cálculo automático, através da maior disponibilização dos computadores e o aumento exponencial do poder de cálculo. Problemas até ali de difícil abordagem do ponto de vista analítico, passam a ter soluções algorítmicas, rápidas e fiáveis, no quadro do cálculo numérico.
Deste modo, o Técnico torna-se das primeiras escolas internacionais a ensinar os modelos geoestatísticos para a caracterização de recursos minerais e as metodologias de otimização (Investigação Operacional) no Planeamento Mineiro, e novas disciplinas que começam a fazer parte da prática da engenharia de minas. Gerações de alunos formados no Técnico, ao integrarem a indústria mineira, cimentaram as bases da moderna engenharia de minas de hoje. Toda esta transformação se deveu à visão de José Quintino Rogado.
Ao prestar homenagem ao Professor Quintino Rogado, o Departamento de Engenharia de Recursos Minerais e Energéticos e o Técnico Lisboa cumprem o mais elementar e o mais nobre dever para com os seus melhores docentes e, ao fazê-lo, cuida da sua história para melhor projetar o seu futuro como uma escola de referência.